sexta-feira, 20 de novembro de 2009

No ritmo do banzo

Com o coração apertado o sofrimento lateja!



Não, essa não é mais uma de amor.


Olho pr’o lado, só olhos atormentados – o medo. Do outro lado, a boca fala outras línguas ou a mesma. A minha, seca num grito silencioso. Nem todas as bocas gritam o medo. Muitas calam-se.


As mãos, não as sentia mais. Nelas pingava o suor que escorria do corpo. O corpo do outro. Tantos outros que a conta se perdia em meio à escuridão e ao embalo do mar.


O sofrimento se multiplicava em olhos, boca, suor e nos outros, tantos aflitos.


Tensão. Fuga.


Em alto mar são raras as chances de saída. Aqui, elas não existiam. As correntes são fortes e se prendem ao meu grito, ao suor, ao sofrimento de todos. Todos juntos num só murmúrio.


Tristeza e nostalgia – banzo.


Meu murmúrio era calado. Não suportava aquela agonia.


Suor, sangue, sofrimento, murmúrio.


Dor no peito. Tontura. Espuma. A idade já pesa. O banzo se esmera em alto mar. O grito não sai. Todo grito é suportável ao lamento da dor. Mas esse não o era. E eu ali sentado, entre correntes e corpos. Tantos.


Suor, sangue, dor, espuma, murmúrio – morte. Tão lenta quanto o último pingo do suor no seu rosto. Como um bom ser humano, pensei: antes ele do que eu.

Ver sofrimento alheio é imaginar-se livre de algumas dores.


Logo vi escrito na tua face: antes aqui do que lá.


Perguntei-me onde. No ritmo do banzo, a história te conta.

A mais corriqueira delas.


*Andreza Conceição
Licenciada em Letras vernáculas pela UNEB, graduanda em Pedagogia pela UFBA.

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