Ainda está entranhado na pele, como uma maldita praga que não se consegue largar. Reclamava de falta de inspiração e agora toma. 57 dores que sufocam o peito e deixam uma dor lancinante, como se recebesse 57 facadas por um corpo que vaza água. Levemente salgada, vulgo lágrima. Mas leve não é um adjetivo cabível nessa noite, onde o peso do mundo sobrecarrega toda uma cabeça. Então, toma-lhe reclamar do gênio insuportável, da noite mal dormida, da companhia chinfrim, do dia mal sucedido e da vida fracassada. Exageros. Todo canceriano é chegado em um exagero. Não se abre tão fácil um coração assim, como se abre um par de pernas. Textos que são publicados são sempre aqueles mais escrotos. As pessoas sempre gostam de saber com quem você se deita. Como se fosse grande coisa. Eu não analiso a vida cotidiana, eu não analiso dores e amores, eu analiso o nada. E as pessoas compram.
Lílian Carvalho
Graduada em Letras Vernáculas pela Universidade do Estado da Bahia-Salvador.
Adoro esse conto! Divulgarei tbm!
ResponderExcluirUau. Que texto mais tocante. Não sabia que tu eras capaz de tamanha delicadeza e acidez.
ResponderExcluirParabéns, Gute.