terça-feira, 1 de setembro de 2009

O que se esconde em um elogio

Os cabelos são mais uma das armas do racismo camuflado vigente em nosso país, mostrando o processo que o colonizador destinou à mulher negra, espaços predeterminados e se essa quiser alçar outros espaços tem que se “adequar” aos padrões da sociedade colonial.
Na atualidade, o racismo continua no cotidiano dos negros (as) através de frases aparentemente elogiosas, pois os racistas se mostram quase que “envergonhados” de negarem que nós somos belos abertamente, então, hoje dizem em expressões irônicas: – você é linda... Mas seu cabelo? – Cabelos “flops” dão leveza! Alise boba! – Se fizesse escova mudava sua fisionomia!
Nossos cabelos têm sido alvos constantes, porque nós buscamos a inserção em todos os espaços (indústrias, faculdades) fugindo do estigma colonizante do ambiente doméstico, onde cabe apenas obedecer aos Senhores, pois em nossa cultura eurocêntrica, destituir-se de aspectos de negritude, principalmente do cabelo, garante a ascensão social. Porque a partir do momento que o cabelo é modelado a fim de parecer liso assegura o acesso a um emprego, a círculos de amizades (privilegiados); enfim, é o cabelo um passaporte para o sucesso.
Negra Li é um exemplo simples e recente desse monopólio industrial do cabelo. Reportando-se as mulheres negras americanas e sua estética diversificada, a cantora/atriz garantiu um espaço televisivo e um Marketing maior de suas músicas entre as adolescentes de distintas raças. A textura crespa da época de sua parceria com o Rapper Helião deu lugar a um fio mais esticado com direito a aplique e várias mechas alouradas. E como no mercado musical capitalista global as louras ganham mais, ela tentou! Conseguiu? Não podemos responder. São tantas (Shakira, Beonce).







Ter o cabelo liso e a pele clara é o ideal fundamentado pelas idéias do racismo cientifico que apregoavam os conceitos de raça que norteavam o caráter do sujeito seguindo apenas características físicas como fator desencadeante da subdivisão de espécies dos seres humanos.
Estes conceitos anteriormente citados foram trazidos das teorias cientificistas do século XVII e difundidos no Brasil no inicio do século XX por Nina Rodrigues como os primeiros estudos antropológicos físicos. Os ideais de Nina Rodrigues estão tão entranhados na sociedade baiana que mesmo se vendo nas ruas em belos blacks, em capas de revistas e na TV, o modelo de beleza branco é o único aceitável e se aproximar deste estereótipo, transformar-se em Gisele Buchem é o que todos desejam, porque mesmo sendo branco não basta! Tem que ser branco, magro, alto e ter olhos azuis a ponto de não ser identificado como negro. É o que se almeja para ser um igual e aceito.
Em nossa cidade de São Salvador o racismo “veste” várias camadas mantendo o sistema. A partir da militância as mulheres negras assumiram seu cabelo crespo solto, trançado, penteado com palhas e contas. Não é fácil ter Black ou tranças, porém é por meio de pequenas batalhas diárias que se faz a mudança, presente nas ruas de nossa negra cidade.
Não há mais estranhamento em ver advogadas, universitárias, médicas, mantendo o cabelo natural como símbolo principal de negritude a despeito dos valores da sociedade. Sendo assim a forma como se trata o visual preponderante para valorização da mulher negra em todos os ambientes que queremos estar inseridas, como nos diz Bell Hooks em seu artigo Alisando nosso cabelo.
Esse tipo de preconceito por padrão de beleza nunca foi e nem será um mito/grito de Democracia Racial e sim, Demagogia social. Não desejamos ver outras mulheres da luta na frente de nossas TVs destituindo discursos políticos antes e depois da Fama do Plin Plin, mas para galgarmos isto talvez se faça necessária uma boa dose de ironia e pulso forte em mais um capítulo da novela diária chamada Chica da Silva no país da Democracia Racial.

Fotos disponíveis em:
*armasdefogo.blogspot.com/2005/06
**http://www.emiolo.com/v7/index.php?secao=entrevistas/2007







Elque dos Santos
Graduada em Letras Vernáculas pela UNIJORGE, Arte-educadora e militante.

Ana Fátima dos Santos
Graduada em Letras Vernáculas pela Universidade do Estado da Bahia e militante.

Nenhum comentário:

Postar um comentário