terça-feira, 20 de outubro de 2009

Política dos ressentidos não é só a dos outros

Certos anarquistas gostam da condição de miserável e de explorado: duas palavras que possuem, para eles, uma espécie de brilho sedutor e que, depois de promovê-los gradualmente em suas carreiras, dão-lhes um pedestal elevado e agradável ao seu amor-próprio. Através delas, fazem-se mártires e salvadores ao mesmo tempo: no seu gosto plebeu quase perecem do próprio nojo e da compaixão como pena imposta a si mesmo; no seu ofício de justiceiros pretendem inflamar esperanças no outro. Não raras vezes, esquecem que as palavras estão cheias daquela mesma vida infame, segundo a segundo.
Reclamam-se "anarquistas sociais" e sustentam a mesma prática dos liberais: tomam a "sociedade" como objeto da sua política nomeando como inserção social o que os liberais chamam de política social e assistencialismo; ignoram que social é uma estratégia liberal de pacificação, visando um modo específico de organização da sociedade precisamente na intersecção entre indivíduo e Estado, entre civil e político. Tola maneira de desejar distinguir social de individual, próprio ou de estilo de vida.
São intransigentes como os plastificados moralistas; trazem no cérebro juízos e convicções que fermentam sua ânsia de poder. Não são menos polícia por não terem farda, nem menos juízes por não carregarem toga: impotentes no seu governo e tribunal apegam-se a um efêmero autoritarismo, confundindo o brilho litóide anarquista com o ouro de tolo garimpado por um inocente crente no bom e no bem.
Ana Carla dos Santos
Graduanda em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia e em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia, poeta.

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